O grandioso dia do Metal com M maiúsculo!

O dia que os headbangers lavaram a alma com suor: com grandes nomes do segmento, Rock in Rio fez o melhor “Dia do Metal” de todas as edições

Headbangers durante o show do Sepultura – foto: Schlaepfer

Quando foi anunciada a escalação das bandas que iriam compor o tradicionalíssimo e aguardadíssimo “Dia do Metal” da edição 2019, já sabíamos que seria no mínimo um dia histórico. Nunca antes no Rock in Rio tivemos em um único dia essa quantidade de grupos de renome e tão bem conceituados das vertentes mais pesadas do Rock (Heavy Metal, Thrash Metal e Hard Rock). Neste ano foi simplesmente uma covardia, realmente pegaram pesado (no bom sentido).

Trio feminino Nervosa abre os trabalhos mostrando que Thrash é “som de macho” mas também “de menina”

NERVOSA – foto: Marcelo Paixão

Ainda debaixo de um sol quente das 3 da tarde (e bota quente nisso) o trio formado apenas por mulheres da banda Nervosa, composto por Fernanda Lira, Prika Amaral e Luana Dametto, abriram as atividades no Palco Sunset com muita propriedade. Engana-se quem acha que o sol e o horário seriam fatores contra, pois a galera das camisas pretas já estava em peso marcando presença na Cidade do Rock. A propósito, podemos arriscar o palpite de que esse foi o dia que o povo chegou mais cedo. O Thrash Metal da Nervosa foi o “start” para abrirem as primeiras rodas na multidão, conhecidas como “Mosh Pit” ou “Roda Punk”, algo que foi corriqueiro durante todo o evento, progressivamente a cada banda com rodas cada vez maiores. As “meninas” da Nervosa mostraram e provaram que não é só de testosterona que se faz um Thrash Metal potente e vigoroso. Ainda houve espaço para mostrar seu engajamento quando a banda criticou a mistura de religião com política que acontece no cenário atual e a vocalista e baixista Fernanda homenageou Marielle Franco dizendo: “É por ela que estamos aqui“.

Metal Paulista muito bem representado com Claustrofobia, Torture Squad e a ilustre presença de Chuck Billy do Testament

TORTURE SQUAD – foto: Renan Olivetti

Na sequência, sai do palco o trio feminino e entra um trio masculino: chega a vez da banda paulista Claustrofobia que com apenas cinco canções em pouco mais de 20 minutos fez um show rápido e intenso. O trio iniciou o seu show explosivo já (metaforicamente e quase que literalmente) tirando o “Pino de granada” (nome da faixa de abertura da apresentação). Na sequência complementou com as 4 outras músicas autorais “Bastardo do Brasil”, “Vira Lata”, “Metal Maloka” e “Peste”. Um show rápido e compacto que deixa aquele gostinho de “quero mais”. O trio deu o recado e fez bonito botando as camisas pretas para suar. Dando continuidade entra no palco outra banda paulista para um show ainda mais curto. É a vez da banda Torture Squad que faz uma apresentação de apenas 3 músicas do seu repertório autoral. Mas tudo isso tem uma explicação, trata-se de uma compilação de bandas “juntas e separadas” como se fosse um único show coletivo anunciado como “Torture Squad & Claustrofobia convidam Chuck Billy (Testament)

Após vender seu peixe autoral, o Torture Squad continua no palco para um dos momentos mais aguardados. Chega a hora de uma participação mais do que especial: para delírio dos headbangers old school, junta-se ao trio brasileiro o lendário e venerado vocalista do Testament, Chuck Billy, e juntos executam “Disciples of the watch”, “Practice what you preach” e “Electric crown” que fecha a apresentação. Showzão inesquecível pra quem é antenado no mundo do Metal.

Sepultura faz homenagem a André Matos e apresenta música inédita

SEPULTURA – foto: Schlaepfer

Vamos em frente! Deixando o Sunset de lado, chega a hora de migrar os olhos e ouvidos para o Palco Mundo. Com o horário antecipado em 10 minutos, as 17:20 (em vez de 17:30) abre o palco principal do evento a (indiscutívelmente) maior banda de metal do Brasil (com cacife para talvez a maior do mundo) o maior expoente nacional do gênero, o nosso (com muito orgulho) Sepultura!

Ainda com o sol se pondo, o grupo mineiro abriu o show logo de cara com uma sequência matadora de “Arise” seguida por “Territory”. Abordando varias fases da carreira, o repertório teve outros “clássicos seputurianos” como Inner self, Refuse/Resist, Choke, Attitude, Ratamahatta e a bomba explosiva Roots Bloody Roots que fecha o show em uma enorme catarse! Ainda teve no repertório uma cover da banda Massive Attack tocando a música Angel e também a apresentação de uma música inédita chamada Isolation, que estará no próximo álbum de estúdio do Sepultura, previsto para o ano que vem.

Mas arrepiante mesmo foi o momento do show do Sepultura que apareceu no telão uma imagem do nosso inesquecível André Matos (vocalista ícone do Metal, falecido este ano) enquanto a banda executava o trecho instrumental da introdução de Carry On, maior hit da banda Angra, da qual Matos era o vocal e fundador. Teve muito headbanger trevoso com cara de mau deixando os olhos lagrimados. Linda homenagem, merecida e emocionante!

Veteranos do segmento, a banda Anthrax estreia no Rock in Rio levando o seu Thrash Metal ao Sunset

ANTHRAX – foto: Wesley Allen

Seguindo no ping-pong Sunset-Mundo/Mundo-Sunset, sem tempo pra respirar, hora de correr pro sunset pra conferir outro clássico do Thrash Metal, o veterano grupo americano Anthrax.

Estreando no festival, a banda liderada pelo carismático vocalista Joey Belladonna tocou para um Sunset lotado que cantava e agitava ao som de músicas como “Caught in a mosh”, “Madhouse”, “A.I.R.” e “Now it’s Dark”. O comentário geral na plateia era que eles, assim como o Slayer, mereciam o Palco Mundo. Realmente mereciam, mas o Sunset tem também as suas vantagens, sendo a principal delas, uma maior proximidade com o público. Este foi um daqueles shows que os headbangers brasileiros aguardavam a muito tempo. Uma justiça tardia que foi finalmente honrada e com resultado super satisfatório.

Com dois vocalistas e músicos de varias formações da banda, o Halloween mostra ao que veio

HELLOWEEN – foto: Diego Padilha

Seguindo a maratona de shows imperdíveis, mal acabou o Anthrax e o público corre em direção ao Palco Mundo. Sai o Thrash Metal de cena e entra no seu lugar o Heavy Metal Clássico com vocais mais melódicos. É a hora do Helloween, conterrâneos do Scorpions, a primeira banda alemã da noite volta ao Rock in Rio após uma passagem pelo Sunset em 2013, com um formato que revisita varias formações da banda, com direito a dois vocalistas: Michael Kiske e Andi Deris.

O show começou já incendiando com “I’m Alive”, mas se fossemos destacar os momentos de maior feedback do público, podemos ficar com “Eagle fly free”, a lindíssima balada “A tale that wasn’t right” e “I Want out” que encerrou o show com o público cantando junto, provando que o Helloween foi uma escolha acertada da produção que escalou a banda para a difícil missão de substituir o Megadeth.

A despedida gloriosa do Slayer

SLAYER – foto: Renan Olivetti

Uma das maiores bandas de toda a história mundial do Metal é o Slayer! Uma escola de Thrash Metal, banda referência obrigatória para qualquer banger que se preze. Esta icônica banda californiana anunciou há um tempinho que vai “pendurar as palhetas” e encerrar definitivamente sua carreira. Mas antes da lenda do presente virar lenda do passado, a trupe liderada por Tom Araya preparou uma turnê de despedida, algo mais que obrigatório. A despedida do Rio foi lindamente coroada no palco Sunset com o público em vários momentos entoando o coro “Olêêê, olê-olê-olê, Slayeeeeer, Slayer!”

Quem é fã deles conhece e curte tudo, não tem muito esse papo de música de trabalho, mas de qualquer forma sempre há destaques para músicas que foram trabalhadas como singles, entre elas “Seasons In The Abyss”, “South Of Heaven”, “Angel of Death” e a icônica e poderosíssima “Raining Blood”.

Não preciso nem contar o óbvio: difícil ficar parado, pois o moshpit abriu uma roda gigantesca logo na primeira música e não fechou mais. Pelo contrário, as rodas iam cada vez aumentando mais, até que se umiam formando uma grande roda. Irresistível pra quem curte. Eu, quarentão, cansado da maratona, com dor na coluna, também não resisti. É o Slayer! É o último show! A vida é uma só! Vou me acabar nesse moshpit como se não houvesse amanhã! Saí de lá semi-morto e feliz como uma criança na Disneylândia. Pelo sorriso e cara de “orgasmo da alma” do público, posso afirmar que não fui o único a sair de lá nesse estado de glória.

Com cenários deslumbrantes e produção caprichada, Iron Maiden faz um showzaço impecável e mostra porque é merecidamente uma das maiores bandas de Metal do mundo

IRON MAIDEN – foto: Diego Padilha
IRON MAIDEN – foto: Diego Padilha

Trocando de lugar com o Scorpions, o headliner da noite continua sendo o Iron Maiden. Ícones supremos do segmento, Maiden é simplesmente um dos pilares do Heavy Metal. De volta ao festival, aos 61 anos de idade, Bruce Dickinson e seus companheiros da donzela de ferro fizeram um show com uma mega produção digna da grandiosidade da banda. Cenários e figurinos medievais pra lá de caprichados somam a musicalidade refinadíssima de músicos extraordinários. O resultado não poderia ser outro: Perfeição! Não há o que melhorar: músicos excelentes, cenários deslumbrantes, hits e mais hits, Dickinson simpático e comunicativo, fãs super fiéis como em uma seita. Fortíssimo concorrente a melhor show do festival.

Os fogos que acendiam em enormes labaredas durante o espetáculo esquentavam literalmente o público que já estava “aquecido” por clássicos do Metal como “Aces High”, canção que abriu o show com o também piloto de avião, Bruce Dickinson, com figurino característico de aviador, enquanto um antigo avião de guerra fazia parte do cenário.

Em um show muito teatral, a troca de cenários e figurinos era algo muito frequente. Em outras ocasiões Bruce reapareceu com roupa de neve ou vestido de monge e sacerdote. Um dos momentos épicos de todo show do Maiden é quando entra no palco o gigante mascote presente em todas as capas de disco da banda, o emblemático é inconfundível “Eddie the head”. Por mais que já seja algo mais que previsível dentro dos shows deles e não seja nenhuma novidade, é sempre um momento ímpar e de grande euforia quando o gigante Eddie entra no palco.

Deixando de lado a teatrilidade e falando da parte musical, o set list também estava impecável. Os grandes sucessos estavam lá: “The Trooper”, “Number of the beast”, “Iron Maiden”, “Hollowed by thy name”, “Run to the hills” e a grandiosa “Fear of the Dark” que sempre acaba sendo um dos grandes momentos de interação com o público cantando em coro na introdução melódica e soturna da canção. Arrepiante, sempre arrepiante! Iron Maiden deu uma aula de Heavy Metal clássico.

Scorpions fecha a noite e usa novamente a guitarra com símbolo do festival usada em 1985

SORPIONS – foto: Marcelo Paixão
SORPIONS – foto: Marcelo Paixão

Conforme já havíamos adiantado aqui no Baú do Rock, o guitarrista da banda alemã Scorpions, Matthias Jabs, ia usar novamente uma guitarra feita especialmente para o primeiro Rock in Rio de 1985, onde o corpo da guitarra tem o formato da logo do festival, remetendo a forma geográfica do nosso país. A tal guitarra que na época foi doada à Roberto Medina, foi emprestada ao antigo dono para mais uma vez ser usada no festival.

Outro momento diferenciado e de homenagem ao Brasil dentro do show do Scorpions, que fechou o “Dia do Metal” da edição 2019, foi quando seu vocalista Klaus Meine cantou com seu “português de gringo” o refrão de “Cidade Maravilhosa” em versão a capella e pedindo ao público que repetice o famoso refrão desta declaração a cidade.

É verdade que muita gente após o Maiden foi embora e que o show do grupo de Hard Rock alemão não teve tanta interação por parte do público quanto aos shows anteriores da mesma noite. Obviamente, muito se deve ao cansaço evidente após uma maratona de shows. Mas quem ficou pra ver estava interessado em ouvir os poderosos rocks cheios de riffs como “Rock Like a hurricane” e as belas baladas “Wind of Change” (canção embematica que fala sobre a derrubada do muro de Berlim) e o grande hit “Still Loving You”, canção que abriu o bis e fez muitas mãos levantarem seus smartphones. Um show pra fechar este nobre dia do Metal com chave de ouro! Afinal, ouro é o Metal mais nobre!

Lavamos a alma! Fica agora o desafio quase que improvável: será que é possível fazer em outra edição um “Dia do Metal” tão espetacular quanto esse?

Baú do Rock

About the Author: Tomaz Sussekind

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