Hoje é aniversário do Sérgio Britto, um dos amazing integrantes dos Titãs, e venho aqui prestar uma pequena rock-homenagem contando duas experiências (entre muitas outras) que tive com a banda em minha adolescência.
Dos 12 aos 16 anos de idade tive contato direto com o pessoal dos Titãs. Isso porque tenho uma tia que é poetisa e era amiga do Arnaldo Antunes. Quando iam realizar shows em Curitiba, minha tia e seu namorado faziam almoços deliciosos para eles, em geral ao longo da tarde numa casa com jardim amplo, – e eu ia de gaiato conviver um pouco com os “tais”. Isso tudo, claro, após ter me dedicado por horas a decorar os nomes de todos eles pela contracapa do disco. (E eu a-ma-va as músicas deles).
Dentre algumas situações que vivi nestes contextos com a banda, estas foram duas um tantinho peculiares:
1 – Show dos Titãs do Estádio Couto Pereira, ali pelo início dos anos 90. Fomos todos juntos no ônibus da banda até o estádio. Chegando ao local fomos para o camarim. Um pouco antes de iniciar o show, pediram que nós, convidados, fossemos aguardar em frente ao palco, para que eles, os Titãs, tivessem a sós o que chamavam de “momento de concentração”. Assim, nós, convidados, que éramos aproximadamente 8 ou 10 pessoas (incluindo Paulo Leminski e Malu Mader), saímos das escadarias do camarim e adentramos o gramado ainda em penumbra.
Neste momento, um público astronômico ocupando as imensas arquibancadas lotadas, certamente pensando que nós éramos os Titãs, bradou intensa e longamente por nossa chegada…! “ARRRRRRWRWRWRWWRAARRAAWWWWWWWW!!!!” Que emoção!! Um estádio inteiro aclamando por nós! (Minha lua em leão adorou).
Porém, logo em seguida, ao verem que não subimos no palco, e perceberem que nós NÃO éramos os integrantes dos Titãs, recebemos uma ardente e um tanto agressiva VAIA de compensação!! “WWWWEEEEEÃÃÃRRRRRR…………….!!!!”
Kkkkk. Foi uma emoção e tanto receber uma vaia poderosa de milhares de pessoas, para uma magrelinha esbelta de 12 aninhos de idade……:)).
2 – Uns anos depois deste episódio, estávamos na casa de shows “Coração Melão”, também em Curitiba. No camarim, vários espelhos imensos colados nas paredes. Eu estava com muita vontade de fazer xixi, mas na empolgação de conversar com eles (ou ao menos observá-los, quando minha timidez ou “vocabulário adolescil” não acompanhava os diálogos mais complexos), ficava adiando a ida ao banheiro.
Então, chegou o momento da “concentração”, e naturalmente nós, convidados, fomos para a frente do palco aguardá-los. Eu, particularmente, ficava sempre na frente do guitarrista Marcelo Fromer, que era meu amigo e devia achar engraçado a doce e tímida menina-moça que dançava selvagem e loucamente as baladas power-rock.
(Ao longo do show ele costumava tocar guitarra olhando voltimeia pra mim e rindo, fazendo brincadeira/careta com os olhos e a boca, e ao fim do show sempre entregava a palheta em minhas mãos, em meio à multidão, que me olhava não entendendo nada, rss).
Neste dia o local estava absurdamente lotado (dessa vez não tinha área restrita aos convidados em frente ao palco, então era necessário rastrear uns centímetros cúbicos no meio da multidão). Pensei em ir ao bwc antes de começar a primeira música, mas neste mesmo segundo, thanãn!! Iniciaram-se os primeiros acordes e… ”Homem Primata!! Capitalismo Selvagem… ôô-ô”.
A galera pogando e vibrando junta… e tudo tão lotado e amontoado que era só você ficar parado de pé que a multidão te fazia pular junto, numa ritmada sincronia cinestésica dos corpos-todos-colados-pulando-juntos-pelo-rockn’roll!
Ao acabar a primeira já potentíssima música, um respiro. Neste momento pensei “agora eu vou…!”, mas logo percebi que, com a empolgação do show, meu corpo já tinha esquecido a vontade de fazer xixi… – ou ainda, a parte surrealista do meu cérebro pensou: quem sabe transmutou tudo em suor…?! (…) Então, para não perder meu lugar cativo, nem a próxima música, prossegui com o show.
Muitas músicas depois, ao fim do show, voltamos para o camarim. Ao chegar lá, e deparar-me com aqueles grandes espelhos nas paredes, dei-me conta, num susto-caladamente-estridente, que não houve transmutação alguma de minha urina… , e a verdade nua e crua enfim se revelava: minhas calças jeans justas e claras continham em si duas imensas manchas líquidas sinuosas escuras na lateral interior de ambas as pernas, do assoalho pélvico até os joelhos……..
(……………………)
Como se não bastasse este nível de mico já em andamento, ao invés de eu pedir ajuda pra alguém pra trocar de roupa ou ir pra casa, eu amarrei meu camisão xadrez-grunge na cintura, para ocultar a “cena mágica”, e segui em minhas conversas sociais como se nada tivesse acontecido…
Logo em seguida decidiram ir jantar no bar Palácio. Estávamos em 2 ou 3 carros, e a ironia do destino me colocou num pequeno Fiat Uno cor-de-vinho onde naturalmente caberiam 4 ou 5 pessoas; e nos amontoamos em 8 ou 9 (lembro bem do Sérgio Britto, Arnaldo Antunes e Charles Gavin apertados também nesse pequenito Uno vinho).
Com mais um nível-ativado da ironia do destino, estava muito frio e o carro não tinha ar condicionado. Janelas fechadas. Ar parado. Vidros embaçados. Todos respirando… E eu, tadinha…; eu, 14 anos de idade, sem o mínimo “senso de noção” de saber a hora necessária de retirar-se (!), fiquei ali, segurando a respiração, recrutando meus mecanismos psíquicos de negação da realidade, e rezando para que todos ali tivessem rinite e não sentissem o tão evidente aroma azedinho-doce que pairava no ar…
Ao chegarmos no restaurante, tivemos ainda uma ou duas horas de “farta refeição ao aroma único da urina da querida moçoila-empolgada-constrangida-sem-noção”.
Tenho certeza. Se um dia os integrantes da banda forem indagados sobre qual foi a maior demonstração de “amor e lealdade” que uma fã já ofereceu, possivelmente esta situação seria um dos exemplos mais memoráveis que já tiveram……
P.S.: Não parece que estão todos olhando pra mim, na foto, e dizendo “Mijona!”?
(com diferentes expressões faciais e tons de voz).
