É com o sarcasmo e acidez já característico de seus lançamentos anteriores que a banda traz sete petardos dignos de incomodar qualquer simpatizante da realidade fascista que vivenciamos.
Em uma região onde o conservadorismo predomina de maneira tão escancarada como no interior paulista, a banda Sakim De Kola dá voz àqueles que já estão de saco cheio de tanta falácia direitista com Cantigas Pedagógicas Aprovadas Pelo MEC (Quinta Série Records).
A banda punk de Santa Fé do Sul-SP que conta com Hugo Panicalli (Vocal), Rafael Cassimiro (Guitarra), Vinícius “Krnero” Bordon (Baixo) e André Bonini (Bateria), disponibiliza seu primeiro EP após o lançamento de diversos singles como “Carro Do Ovo”, “Vô Mito”, “Cbf” e “Usuário”, sempre criticando o caráter corrupto e anti-popular da mais alta patente do nosso país, bem como os reflexos da propaganda fascista na sociedade, fazendo esta ter cada vez menos pudor de mostrar o seu lado mais desumano. A obra, devidamente nomeada após a repercussão da notícia de intervenção e censura para com os professores durante a elaboração da prova do ENEM, foca justamente na maneira decadente de como a educação é tratada no Brasil.
Inspirada na criminalização do senso crítico nas escolas e faculdades (ou a “doutrinação ideológica esquerdista”), junto ao turbilhão de informações em que a população é exposta sem exercer qualquer filtragem de conteúdo, “Universidade Federal Do Zap” explica muito bem o fenômeno das Fake News que colaboram com a perpetuação do golpe político em que vivemos até hoje, enquanto “UZI” (que conta com um ótimo Lyric Video produzido por Ana Moreira) demonstra que esse problema educacional é muito mais profundo, tendo como base o sucateamento do ensino fundamental público. Aqui a banda leva o individualismo, potencializado pelo método de ensino arcaico e alienatório, para o nível absurdo, ao ponto em que o “sonho do oprimido em se tornar opressor” se traduz no jovem que é capaz de matar seu coleguinha só para ter mais merenda!
Musicalmente a banda une influências das mais extremas do hardcore, como em Lucasmatheus e Tia Neide, ao punk mais tradicional, que pode ser vista em Ministro Da EducaSSão. Tanto esta última como Educação Moral e Cívica (digna de um ritmo que remete a uma marcha militar), joga na cara dos mais desavisados que mantras como “Moral”, “Bons Costumes” e “Meritocracia”, são apenas crenças limitantes que impedem o cidadão de ter consciência de classe, pois os próprios governantes e militares não as praticam, mas são espertos o suficiente para usá-las como ferramenta de controle social.
Em suma, a banda nos brinda com um panorama bem completo das contradições do reacionarismo, desde a sua utilização como ideologia de poder ao seu reflexo na população, como confusões e frustrações, tudo regado com humor e bom uso das diversas influências que os membros carregam dentro do punk/hardcore. Com certeza se trata de uma banda que irá repercutir muito na cena underground!
